sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O silencio que antecede o menear das folhas das árvores

Em muitas ocasiões me senti só. Só no meio de uma floresta linda, testando minha capacidade de sobrevivência. Só fazendo esportes, nadando ou correndo, sem a necessidade de me fazer bonita pois não haviam olhares e nem espelhos. Só ouvindo uma música em silêncio. Só e anônima no meio de uma multidão em Amsterdã.

Mas houve somente uma vez em que me senti realmente só. Faz um tempo e tudo durou 3 horas. Da situação só me lembro da imagem que me vem à mente. O recorte quadro a quadro que há em minha memória é de um prato branco diante de mim, vazio. Eu olhava para baixo, sentada na cadeira, com os cotovelos em cima da mesa, apoiando a cabeça entre as mãos. Nas laterais via desfocados uma toalha de plástico simples e um par de talheres baratos, nos quadros seguintes estão sequenciadas a queda de duas silenciosas lágrimas dentro do redondo branco que via na minha frente.

Jamais poderei explicar a sensação de solidão daquele momento. Misturada à ela vinha um sentimento de impotência e de não ter para onde correr. Sem dinheiro, sem amor e sem ter onde morar, eu chorei. Chorei sem raiva, sem soluços...chorei o choro cansado de quem não tem mais forças para lutar, mas segue respirando.

De vez em quando relembro o sentimento deste dia, mas já sem tristeza...o que sei é que jamais permitirei que meus queridos ou respeitados se sintam assim. Nem a pior pessoa do mundo merece este sentimento.

Entretanto, há muita gente que se sente assim no mundo, por irresponsabilidade alheia ou por escolas próprias que não foram as mais acertadas. Independente do motivo, sigo acreditando que ninguém merece se sentir assim, como eu me senti aquele dia.

Mas, enfim, juntei minhas forças e levantei desta cadeira. Enxuguei as lágrimas dos olhos e do prato.

Passei um batom, peguei minha bolsa e fui viver.

Um comentário:

  1. Solidão sem forças... compreendo bem o que descreves. Em toda a nossa vida, vão haver sempre momentos, sempre caminhos que teremos de percorrer sozinhos... O maior contacto íntimo que alguma vez experienciamos é connosco próprios e não com os outros, mesmo que rodeados de muita gente que nos quer bem... mas essa sensação que descreves é de alguém que esteve em depresão... porque a depressão impede-nos de agir, vai contra o agir, ao abraçar a apatia e a passividade... ainda bem que sorriste, abraçaste a vida e continuaste em frente.*

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